Como proteger a sua MSP da alta do dólar
Conforme já declarado pelo ministro da Economia, em evento em Washington, a alta do dólar veio para ficar e todos devem se acostumar “com o câmbio mais alto e o juros mais baixo por um bom tempo”. Paulo Guedes já advertia em fevereiro, antes mesmo da chegada do novo coronavírus no Brasil, que os problemas estruturais da economia brasileira e fatores externos iriam contribuir para a desvalorização do Real e o aumento da moeda americana.
A cotação do dólar em 30 de dezembro, que oscilava em torno de R$ 4,10 e já estava elevada, acelerou rapidamente e atinge agora na segunda quinzena de abril, sem que ninguém imaginasse, a cotação de R$ 5,23!!!
E no mês de março, com as primeiras reações do mercado com as consequências da pandemia do coronavírus, a economia sentiu vários revezes com a volatilidade do dólar, decretação de quarentena em vários estados, e a Bolsa de Valores acionando o sistema de circuit braker para evitar estragos maiores.
A maioria dos analistas apontam que as dificuldades das economias emergentes, como a do Brasil, serão mais longas com alguma retomada prevista somente para o segundo trimestre de 2021. Serão longos 12 meses de “vacas magras” pela frente.
Embora a volatilidade do dólar deva diminuir nos próximos meses, o novo relatório Focus [1] aponta para um cenário com o dólar à R$ 4,50 em dezembro de 2020.
O nosso Banco Central, nesse cenário de grande incerteza, possui poucos instrumentos para reduzir a volatilidade do dólar e continua com a política de câmbio flutuante. Como frisou recentemente o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk [2]: “o BC não mira nenhum nível de câmbio e a moeda americana flutua “para onde tiver que ir”.
Veja nesse post como proteger a sua MSP da alta do dólar para manter a sua MSP no caminho do lucro, sempre. Vamos lá?
Como é determinado o valor do dólar?
Antes de analisar o impacto da alta do dólar nos negócios para MSPs e Provedores de Serviços de TI, é importante entender o mecanismo básico da variação do câmbio.
Essencialmente, o que determina o valor de uma moeda é a relação entre oferta e procura. Entram nessa equação o efeito da Balança Comercial (exportações – importações), gastos de turistas, taxas de juros e percepção de risco do país.
Desta forma, se o mercado procura mais por dólares (alta demanda), o valor da moeda sobe, e se não houver muita procura (baixa demanda), o valor cai.
Com a fuga crescente de dólar do país a oferta da moeda irá diminuir e a pressão por manter o câmbio elevado será duradouro.
Quais são os fatores que estão contribuindo com a alta do dólar?
A moeda americana é a referência monetária mundial para trocas de produtos e serviços, de reservas, e também é vista como porto seguro para investidores em momentos de crise.
A crise de confiança nos mercados emergentes e a queda da taxa básica de juros no Brasil, a Selic, que atingiu o seu menor valor de 3,75% estão afugentando o dinheiro especulativo vindo do exterior. Em 2019, R$ 44,5 bilhões foram retirados do Brasil. Apenas neste ano de 2020, até o início de fevereiro, a fuga já foi de R$ 23 bilhões [3].
Essa apreciação crescente do dólar tem várias causas, que podemos dividir entre fatores nacionais e internacionais.
Em âmbito global, estes são alguns aspectos que estão influenciando a taxa de câmbio atual:
- Guerra comercial entre EUA e China
- “Porto seguro” da economia norte-americana
- Instabilidade política na América Latina
- Insegurança mundial de uma possível recessão
- Impacto do coronavírus na economia mundial
- Queda dos preços das commodities que afetam o Brasil (petróleo, minério, produtos agrícolas)
Já no contexto doméstico, esses são alguns fatores que estão impulsionando a alta do dólar:
- Mínima histórica dos juros no Brasil (Selic em 3,75% em março de 2020)
- Instabilidade econômica após a crise de 2014
- Baixo crescimento
- Queda da balança comercial (diminuição do superávit)
4 sinais de como a minha MSP pode ser impactada com o dólar
O impacto da alta do dólar é sentido por vários setores da economia, pelos consumidores e no mercado de tecnologia e prestação de serviços.
Os MSPs que utilizam serviços faturados em dólar, contratados diretamente no exterior ou por distribuidores no Brasil, podem ter consequências severas no seu caixa no curto e médio prazo.
1. Margem de lucro reduzido com serviços e softwares atrelados ao dólar
Com a apreciação do dólar comercial nos últimos 12 meses, escalando de R$ 3,91 em 16ABR2019 para R$ 5,23 em 16ABR2020, o contrato fechado há um ano alcançou um aumento direto de 33%, sem considerar os custos indiretos de IOF que devem ser acrescidos em 6,38%.
Se a margem oferecida na sua prestação de serviço, por exemplo, era de 50% para o seu cliente, ela praticamente irá desaparecer depois de um ano, tornando esse contrato desinteressante.
Regra básica para a sustentabilidade dos negócios para a sua MSP é ter clientes, e clientes lucrativos! Somente assim a sua MSP poderá criar caixa para novos investimentos e para formar reserva imprescindíveis em momentos de crise.
Várias empresas quando observam a redução da margem de lucro buscam compensar na mesma medida com a redução dos seus custos operacionais, por exemplo, diminuindo a qualificação do pessoal, contratando outras pessoas com salários menores, diminuindo o nível de serviço para os clientes; ou pior, não recolhendo os impostos devidos. Estas medidas são prejudiciais no médio e longo prazo, fazendo o valor da sua marca, da sua empresa e dos seus serviços diminuírem para o cliente e para o mercado, além de colocar em risco a sobrevivência da sua empresa.
2. Perda de competitividade
Para adquirir novos clientes para a sua MSP e formar o seu preço de venda, a sua lista de preços em Reais precisará acompanhar o aumento do valor do dólar.
Assim o seu preço final poderá aumentar muito mês a mês, tornando o seu esforço de marketing para atrair novos leads e o de vendas para fechamento de negócios uma tarefa árdua e imprevisível.
As saídas possíveis para adquirir novos clientes:
- Negociar um valor do dólar “fixo” com o seu fornecedor. Lembrando que estas manobras artificiais não duram muito tempo e o fabricante ou distribuidor mais a frente precisará rever esta política
- Cortar a margem de lucro para “adquirir” clientes, tornando a sua operação insustentável no médio prazo
- Repassar o aumento de preço para o cliente e renegociar os contratos, com risco de perda do cliente para o concorrente, considerando cenário de mercado em crise.
3. Imprevisibilidade de custos
Os seus custos de licenciamento de software irão variar mês a mês, dificultando a sua política de precificação para o cliente final e o seu orçamento de custos.
Todo final de fechamento da sua invoice ou do seu cartão de crédito você poderá ter uma surpresa desagradável.
4. Encarecimento de dispositivos on-premisses
Dispositivos de redes como roteadores, servidores, unidades de armazenamento como NAS, robôs de fitas ou outros equipamentos de backup com uso de appliances, que requerem importação direta ou mesmo aqueles montados no Brasil, mas que possuem 60% dos seus componentes importados, certamente terão seus preços elevados na conversão para Reais.
Outra dificuldade adicional, na parte da produção no mercado externo, são atrasos de fornecimento por conta de dificuldade na cadeia de produção e de logística de entrega com tráfego aéreo bloqueado em vários países.
Serviços de nuvem, como de BaaS (Backup as a Service), ferramentas de comunicação unificada para suporte à home office, software de virtualização e ferramentas de colaboração on-line tornam-se soluções mais inteligentes para manter a operação da TI das empresas, com o benefício de contarem com infraestrutura off site em data centers seguros.
Como ter um plano de médio e longo prazo
Já está claro que a política cambial deste governo é de apostar na desvalorização do Real, acreditando no aquecimento da indústria local via exportação. No mês de março o ministro voltou a defender a política cambial, veja em https://www.youtube.com/watch?v=QgP-rH7h9t0
Os MSPs e Provedores de Serviços de TI, para garantirem a sua margem de lucro e mesmo no ambiente de crise, devem avaliar outras soluções com precificação em moeda nacional, mais protegidas contra variação do dólar.
Referências:
[1] Banco Central. Relatório de Mercado FOCUS . Disponível em https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus
[2] Pequenas Empresas, Grandes Negócios. BC: alta do dólar não coloca em risco o crescimento econômico . Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Noticias/noticia/2020/02/bc-alta-do-dolar-nao-coloca-em-risco-o-crescimento-economico-do-pais.html
[3] Isto É. Dólar nas alturas. Disponível em: https://istoe.com.br/dolar-nas-alturas/